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4 de março de 2007

Baladas de Coimbra "Os Vampiros - EP 1963




Baladas de Coimbra “Os Vampiros”
1963. Rapsódia - EP (EPF 5218)

músicos:
viola:
Rui Pato

disco 1
1 - Os Vampiros (José Afonso)
2 - Canção Vai… e Vem (Paulo Armando - José Afonso - refrão pop. algarvio/José Afonso)
3 - Menino do Bairro Negro (José Afonso)
4 - As Pombas (José Afonso/Luís Andrade)

Zeca publica a primeira canção de cariz vincadamente político. É certo e sabido que todos eles, os vampiros, sanguessugas e outros predadores hematófagos, ainda hoje estrebucham ao escutar esta canção. Mas, para mal dos seus pecados, “Os Vampiros” tornou-se um tema mais do que actual: intemporal.

Os temas “Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro” foram proibidos pela censura e os discos apreendidos.

Para debelar os custos de produção a Rapsódia editou outro disco em que aqueles temas aparecem em versão instrumental:

disco 2
1 - Canção Vai... e Vem (Paulo Armando - José Afonso - refrão pop. algarvio/José Afonso)
2 - As Pombas (José Afonso/Luís Andrade)
3 - Os Vampiros – instrumental
4 - Menino do Bairro Negro – instrumental

A versão original foi reeditada em 1974.


Os Vampiros
Numa viagem que fiz a Coimbra apercebi-me da inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e no nosso music-hall de exportação. Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos talvez fabricar um novo tipo de canção cuja actualidade poderia repercutir-se no espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair. Foi essa a intenção que orientou a génese de “Vampiros”, entidades destinadas ao desempenho duma função essencialmente laxante ao contrário do que poderá supor o ouvinte menos atento. A fauna hipernutrida de alguns parasitas do sangue alheio serviu de bode expiatório. Descarreguei a bílis e fiz uma canção para servir de pasto às aranhas e às moscas. Casualmente acabou-se-me o dinheiro e fiquei em Pombal com um amigo chamado Pité. A noite apanhou-nos desprevenidos e enregelados num pinhal que me lembrou o do rei e outros ambientes brr herdados do Velho Testamento.
José Afonso, in Cantares José Afonso, pp. 102-103.

Canção Vai-e-vem
O belo poema de Paulo Armando pareceu-me, como na realidade foi, inutilmente sacrificado aos compassos de uma valsa monótona e fria. Para finalizar exigia-se uma conclusão airosa; o estribilho, meio anedótico, foi colhido num livro de cancioneiro algarvio, pertencente à biblioteca da Capitania de Faro. O verso Bonecas, primores, da minha lavra, substituiu o original Bonecas de palha. O resultado, um pouco cabotino, impôs-se pela necessidade de sujeitar a letra ao primado da música.
Ibidem, p. 99.

Menino do Bairro Negro
Estilização decente de um refrão indecente recolhido numa parede cheia de sinais cabalísticos, desses que conservam para a posteridade as mais expressivas jóias dos géneros líricos nacionais. A negritude de que fala o poema existe nos estômagos diagnosticados por Josué de Castro no seu livro “Geopolítica da Fome”. Os meninos de ouro que habitavam os céus antes do Dilúvio descem à Terra e são condenados pelo tribunal de menores a viverem em habitações palafitas até ao dia do Juízo Final representado por uma bola de cartão que desce, desce até tocar nas montanhas.
Ibidem, p. 96.

Pombas
Pretendia-se que a melopeia, feita de reiterações e alongamentos em que a voz mantém as sílabas finais até se extinguir lentamente, correspondesse a um fundo independente do contexto literário e vice-versa. O poema, a melodia e o acompanhamento separam-se e reúnem-se de novo, repelidos por uma espécie de movimento ascensional sem princípio nem fim. A voz eleva-se e tenta fixar por meio de modulações adequadas o voo dos pássaros que se perde na distância.
Ibidem, p. 98.


versões do tema “Os Vampiros”

Banda da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense
Terra da Fraternidade
1999. Câmara Municipal de Grândola - CD


versões do tema “Menino do Bairro Negro”

Mariza
Fado Curvo
2003. Virgin/EMI-VC - CD

Vários Artistas
Galiza a José Afonso
interpretação de Amélia Muge
2000. Edicións do Cumio – 2CD




admário costa lindo


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